AGORA A PERGUNTA DE UM MILHÃO, COMO REMEMBER-ME SE APLICA A CULTURA DE PAZ E AOS DIREITOS HUMANOS?
Primeiro, é válido destacar que quando pesquisamos sobre a junção dos termos Game + Education + Learning , pelos booleanos e, Qualquer Campo e Contém no Portal CAPES Periódicos, ate a data de 14 de abril de 2025, 43.219 trabalhos científicos foram realizados, dos quais 28473 são artigos revisados por pares. Destes, 1410 são trabalhos pesquisados e publicados no Brasil. Percebe-se deste modo, que discutir sobre a utilidade dos games como uma ferramenta de ensino é uma realidade afirmada em diversos campos da educação, quer seja na medicina, quer seja na licenciatura (CAPES, 2025).
Contudo, ao adicionar Cultura de Paz (Culture of Peace OU Peace Culture OR Peace Education) associado ao termo Games OU Videogame OU Digital Games, apenas um artigo, trata diretamente a discussão sobre o uso de tecnologias digitais para o ensino sobre paz, destacando que "A interpretação de papéis em um ambiente digital, especificamente um jogo sério, pode fornecer aprendizado experimental de baixo custo e acessível a todos" (Holohan, 2019, p. 2).
Considerando a afirmação de Holohan (2019), reforça-se a utilização de Remember-me, sendo ele um jogo sério educativo digital para o ensino sobre Cultura de Paz e Direitos Humanos, especialmente quando analisamos sua estrutura, narrativa e mecânicas à luz dos objetivos educacionais.
Narrativas baseadas em cenários reais
O jogo deve simular dilemas éticos e complexidades de operações de paz (ex.: escolhas entre usar força ou diálogo).
Em Remember-me os jogadores vivenciam uma história baseada em fatos reais da vida da autora, bem como, da realidade de mais de 60% das crianças pretas e pardas brasileiras.
Feedback educativo
O jogo deve explicar as consequências das ações do jogador (ex.: como uma decisão afeta civis ou desencadeia uma violência).
Em Remember-me a história e missões partem além do legado, de demandas dos moradores da cidade, além da mãe de Aurora. Demandas causadas pela poluição, depressão, trabalho infantil, abandono.
Papéis não violentos
Os jogadores assumem funções como mediadores, observadores ou assistentes humanitários.
No caso de Remember-me Aurora assume a responsabilidade pelo Legado de Zayak, além de ajudar pessoas ao longo do jogo, ela assume a responsabilidade de limpar a cidade e salvar o meio ambiente.
Contextualização de Temáticas Complexas
O jogo aborda questões como trabalho infantil, violência estrutural e desigualdade social por meio da história da personagem Aurora, uma criança de 13 anos em situação de vulnerabilidade. Isso permite que os jogadores vivenciem e reflitam sobre essas realidades de forma segura e imersiva.
Processo Reflexivo
Ao coletar memórias e interagir com o ambiente, os jogadores são levados a questionar as condições sociais que perpetuam violações de direitos humanos, alinhando-se à proposta da tese de fomentar uma cultura de paz através da crítica dialética.
Pedagogia dos Valores e Direitos Humanos: o jogo explora diretamente a dignidade humana, ao retratar a vida de Aurora e sua família, destacando violações como o trabalho infantil e a pobreza.
Pedagogia da Conflitologia: os desafios do jogo (como a necessidade de coletar materiais recicláveis para sobreviver) simulam conflitos sociais, incentivando os jogadores a pensar em soluções não violentas e cooperativas.
Pedagogia da Ecoformação: a mecânica de purificação ambiental (coleta de lixo e limpeza) conecta-se à educação ambiental, mostrando a interdependência entre justiça social e sustentabilidade.
Pedagogia das Vivências e Convivências: a interação com outros personagens (como Terezinha e Jaqueline) promove empatia e compreensão das relações humanas em contextos adversos.
Base em Vygotsky e Freire
O jogo utiliza a Zona de Desenvolvimento Proximal (Vygotsky) ao desafiar os jogadores a resolver problemas gradualmente complexos. Além disso, segue a pedagogia crítica de Freire, ao transformar a realidade virtual em um espaço de diálogo sobre injustiças sociais.
Aprendizagem Baseada em Jogos
Aprendizagem Baseada em Jogos: a estrutura de missões e recompensas motiva os jogadores a se engajarem com os conteúdos, enquanto a narrativa emocional (como o desaparecimento do irmão de Aurora) facilita a internalização dos temas.
Linguagem Universal dos Jogos
O formato 3D exploratório, inspirado em títulos como The First Tree, torna o jogo atraente para crianças, adolescentes e jovens, superando barreiras de linguagem tradicional da educação formal.
Gratuito e Adaptável
Por ser disponibilizado gratuitamente e compatível com diferentes plataformas (Windows/Mac), o jogo democratiza o acesso a discussões sobre direitos humanos, especialmente em escolas públicas com recursos limitados.
O jogo pode ser usado como ferramenta complementar (em 20-30 minutos de aula), seguido de debates guiados pelo docente, para que reforce-se a mediação crítica necessária para transformar a experiência lúdica em consciência social.
O jogo atende à Lei 13.663/2018, que prevê a promoção da cultura de paz nas escolas, e dialoga com iniciativas globais (como os jogos da UNESCO) ao tratar temas locais (ex.: meio ambiente, trabalho infantil, desigualdade social).
Remember-me é pretende ser mais que um jogo educativo, isto é, pretende-se tornar um dispositivo de transformação social. Ao unir narrativa emocional, mecânicas engajadoras e fundamentação teórica, potencializando a educação para paz e direitos humanos, tornando-se um recurso valioso para professores, estudantes e qualquer pessoa interessada em construir um mundo mais justo.
Sua força está na intencionalidade de humanizar dados estatísticos (como o trabalho infantil) e estimular a ação crítica, cumprindo o papel da educação como instrumento de libertação (Freire, 1987).
Acredita-se que, se integrado a políticas públicas e formações docentes, o jogo pode ser um marco no uso de tecnologias para a justiça social no Brasil.