Todos os jogos quer seja de mesa ou videogame, surge a partir de uma hisória a ser contada, com personagens, cenários e ambientação. No caso de Remember-me não é diferente. Então, para que você possa melhor ambientar o jogo a seus estudantes, deixo para você a história de Aurora e sua missão em Remember-me. A história é autoral, baseada em fatos reais, da vivência da autora e pesquisadora.
AURORA E O LEGADO DE ZAYAK
Olhando daqui, fico pensando, como a vida é interessante, são tantas pessoas no mesmo espaço que quase não se conhecem. Porque será?
Hoje vou contar para vocês a história de duas crianças que moram aqui em Santa Helena. Aurora e Zayak
Aurora e Zayak viviam em uma pequena casa na periferia da cidade, cercada por ruas estreitas e vielas que subiam e desciam como labirintos. A vida era dura, mas os dois irmãos sempre encontravam um jeito de sorrir. Todos os dias, eles saíam pelas ruas para coletar materiais recicláveis. Garrafas, latas, papéis e plásticos eram seu tesouro. Com eles, conseguiam trocar por algumas moedas para comprar comida e ajudar a família. A vida era dura, mas os dois irmãos sempre encontravam um jeito de sorrir, mesmo quando as pessoas passavam por eles sem nem olhar.
Aurora, com seus 13 anos, era a mais velha e sentia a responsabilidade de cuidar do irmão mais novo. Zayak, de 10 anos, era cheio de energia e sempre inventava brincadeiras para tornar o trabalho menos pesado. Para os dois, o mundo era lindo e belo, pois cada papel coletado, era como se eles estivessem salvando seu mundo. Eles acreditavam que, ao limpar o ambiente, estavam fazendo a diferença, mesmo que ninguém mais parecesse se importar.
Um dia, enquanto trabalhavam, Zayak sugeriu:
— Que tal brincarmos de esconde-esconde? Só um pouquinho, para descansar!
Aurora hesitou, mas acabou concordando. Zayak era rápido e esperto, e logo desapareceu entre os becos e vielas. Aurora começou a procurá-lo, chamando seu nome. Mas, depois de horas, ele não apareceu. O coração de Aurora apertou. Tudo ao seu redor começou a parecer mais escuro e sujo. Onde estaria Zayak?
Dias se passaram, e Aurora não desistiu de procurar o irmão. Enquanto isso, ela continuava coletando recicláveis, mas agora com um propósito maior: cada garrafa, cada lata que ela recolhia, era uma esperança de purificar o mundo e, quem sabe, encontrar pistas sobre Zayak.
Desde o desaparecimento de Zayak, a mãe de Aurora ficou doente. Não era uma doença física, mas algo mais profundo: uma tristeza que a consumia dia após dia. Ela mal conseguia sair da cama, e sua voz, antes cheia de vida, agora era apenas um sussurro.
— Filha, estamos com pouca comida em casa. Preciso que você coma tudo no seu prato. Você é meu bem mais precioso, preciso que esteja bem. — disse a mãe, com olhos cansados.
Aurora sabia que a mãe estava perdendo as esperanças de encontrar Zayak. Era como se a imagem dele estivesse desaparecendo aos poucos, junto com sua força. Aurora prometeu a si mesma que faria tudo para trazer o irmão de volta e curar a mãe.
Uma noite, enquanto dormia sob as estrelas, Aurora sonhou com uma voz suave:
— Aurora, você cuida da Terra, e agora a Terra cuidará de você.
Ao acordar, ela percebeu que algo havia mudado. Suas mãos brilhavam com uma luz suave, e ela sentia uma conexão profunda com a natureza. Era como se a Terra a tivesse dado um presente: poderes para purificar o que estava contaminado.
Certo dia, Aurora caminhava por uma das ruas e encontrou uma garrafa vazia e a enchei de água, pois estava com sede. E ao beber, um pouco da água caiu em sua mão e escorreu pelo chão. E ao cair no chão, algo mágico aconteceu... uma flor que estava praticamente morta, em um estante cresceu, e em sua volta, novas flores começaram a nascer, como se naquela água, estivesse o elixir da vida.
Percebendo isso, Aurora decidiu que, com aquele poder mágico ela purificaria seu mundo deixando-o mais limpo e saudável, pois assim, ela tinha certeza de que encontraria seu irmão.
No entanto, Aurora sabia que em sua casa, ainda havia outra luta, pois com a mãe doente, quem traria a comida para a mesa? Olhando para o rosto de sua mãe Aurora fala:
— Não se preocupe mãe, vou ficar bem forte. E vou cuidar de nós duas.
Percebendo a preocupação de sua mãe, Aurora decidiu sair trabalhar, para juntar mais materiais e vender em um depósito perto de sua casa, para assim, comprar mais alimentos para sua mãe.
— Preciso juntar alguns materiais recicláveis aqui, para vender ali no depósito verde.
Enquanto subia a rua de sua casa, Aurora refletia sobre o quanto crianças como ela sofriam com o trabalho infantil. Ela sabia que não era justo ter que escolher entre estudar e ajudar a família. A sociedade deveria proteger as crianças, dando-lhes oportunidades para crescer e sonhar.
Ao coletar uma latina perto de casa, Aurora pensou: — Por que ninguém faz nada?
Ela sabia que a culpa não era apenas das pessoas, mas de um sistema que valorizava o lucro acima de tudo. Um sistema que explorava a natureza e as pessoas, sem se importar com as consequências.
Pouco mais acima de casa, Aurora, caminhava próximo de sua casa e ouviu um choro baixinho, como se algum animal estivesse machucado.
Ao se aproximar, Aurora percebeu que perto de uma árvore, havia um cachorrinho, chorando com a pata tremendo e quebrada.
Cuidadosamente, Aurora se aproximou do cachorrinho e derramou de sua garrafa, a água que ela usava para beber. Ao derramar, Aurora tocou na pata do animalzinho e ele sorriu, não estava mais doendo nem quebrada.
— Que bom que você está bem, estou muito feliz! Falou Aurora.
Agradecido, o cachorrinho lambeu sua mão e passou a acompanhá-la em sua jornada.
Olhando para o Céu, Aurora Falou:
— Maninho, eu vou te encontrar, tenho certeza.
Depois de juntar alguns materiais, Aurora foi até o Deposito Verde, onde compravam materiais de metal. Na sacola, Aurora tinha latinhas de alumínio e fios de cobre. Na volta a sua casa, caminhando pelas ruas Aurora passou por uma casa, muito agradável, na frente havia uma senhorinha, simpática de cabelos grisalhos, curiosamente, nela exalava um cheiro de café. Que cheiro bom! Pensou Aurora.
— Oi oi oi, mocinha, pode me ajudar? Chamou a senhora, olhando para Aurora.
Terezinha era seu nome, mas Aurora, preferiu chamá-la em seu pensamento, de doninha do café.
— Oi, talvez, o que a senhora precisa? Perguntou Aurora.
— Meu nome é Terezinha e meu gatinho, está preso naquela casa enorme, ali perto do teto, mas eu não consigo alcançar. Minhas costas doem. Explicou a doninha do café.
Aurora pensou, pensou. Ela também não era muito grande para esse tipo de serviço. Mas ajudar não custaria nada. Ela lembrou de sua promessa e aceitou o pedido da senhora. _Tudo bem senhora, pode deixar!
— Muito obrigada meu anjo, Ah! Qual é seu nome mesmo?
— Aurora! Respondeu Aurora.
— Aurora, que nome lindo! Enquanto você sobe lá, eu vou fazendo um cafezinho para você.
Aurora sorriu e pensou: — Eu sabia que ela tinha um cheirinho bom.
Ao entrar na casa, Aurora até se assustou no começo.
— Caramba, lá em casa é cheio de reciclagem, mas aqui já passou dos limites.
A casa, era uma casa abandonada, lá morava outra senhora, que acumulava tudo o que encontrava na rua. Era seu hobby. Lá tinha de tudo, sapatos velhos, roupas, caixas de papelão, papel, sacolas e restos de comida e muitos jornais. Em um deles, havia uma notícia que chamou a atenção de Aurora que falava sobre uma Indústria que estava despejando seus lixos tóxicos em riachos da região e por isso, muitos moradores ficariam sem peixes e sem água por muito tempo, até o rio se recuperar.
Aurora ficou triste com a notícia, deixou o jornal no canto e tentou entrar mais na casa, mas ao se aproximar, Aurora notou que lá havia muitas moscas.
— Quantas moscas! disse ela.
Eram moscas estranhas, meio grande para uma mosca normal e, olha que de mosca, Aurora estava bem acostumada. Pouco mais acima, olhando pela janela, Aurora conseguiu enxergar o gatinho.
Mas para alcançá-lo, Aurora precisaria purificar toda a casa, separando material por material. Pois, cada vez que ela tentava entrar por cima dos lixos, mais moscas surgiam, deixando-a tonta e muito fraca.
— É, isso aqui não será tão fácil assim. Mas eu não tenho tempo. Pensou Aurora.
Aurora sentiu medo, mas lembrou-se de seus poderes. Ela construiu com o lixo da casa, uma super mochila de purificação, com uma garrafa grande de água e uma mangueira, ao conectar tudo, Aurora notou que suas mãos começaram a brilhar e percebeu que poderia usar aquela água para limpar o local e se defender das moscas.
Depois de um tempo, Aurora já havia limpado todo o local e as moscas desapareceram. Ao sumir, uma câmera fotográfica cai no chão. Ao pegá-la, Aurora percebe que nela há uma foto salva. Uma foto de uma casa na árvore e atrás um recado: Lembre-se.
Ao resgatar o gatinho Aurora, volta na casa da doninha do café. E realmente, na mesa de dona Terezinha, havia uma xicara muito fofa com café e leite, ao lado, um prato pequeno com um pedaço de bolo.
— Você conseguiu eu sabia que conseguiria. Disse a Doninha do café.
Aurora sorriu.
Foi o melhor bolo que Aurora havia comido em sua vida. Uma mistura de chocolate com carinho.
- Aurora! Indagou a senhora. Vi que você está juntando esses materiais para vender. Meu neto sempre brica ali no campo de futebol da Vila. E lá, sempre tem muitas latinhas de alumínio e metais, acredito que pode ser do seu interesse.
— Realmente! Pensou Aurora. Latinhas e metais valem mais na hora de vender. E não preciso juntar tanto para comprar pão. Acho que vou lá. Muito Obrigada Dona Terezinha. Disse Aurora. Contudo, já estava tarde e Aurora sabia que sua mãe estava lhe esperando. E que ela também precisaria descansar, pois, ela tem um legado muito importante a cumprir.
Até Mais!